O ano era 1877, o então fazendeiro Matheus José de Souza e Oliveira e a esposa Pureza Emília da Silva falecem e deixam suas terras para seus ex-escravizados, isso em testamento, o que parecia ser simples, já que havia um testamento garantindo o direito das terras, vira uma história de luta pela garantia dos direitos. Essa é a história do Quilombo Invernada dos Negros, que fica entre os Município de Camos Novos e Abdon Batista, e até hoje seus remascenes lutam pela posse da terra.
Esses remanescentes dos herdeiros e ex-escravizados têm muitas histórias para contar e elas vão fazer parte da produção brusquense: Vidas Interligadas, documentário que vai traçar um paralelo entre a vida das pessoas pretas de Brusque e os quilombolas de Santa Catarina. No último final de semana, a produção da obra cinematográfica ouviu algumas histórias.
A educadora e quilombola Adriana Ferreira da Silva, da Invernada dos Negros, falou da importância de uma produção ouvir e deixar para a memória das futuras gerações as histórias do quilombolas. “As comunidades quilombolas e os remanescentes quilombolas têm uma história muito bonita e muito marcante, na nossa geração atual, e que faz parte da nossa ancestralidade, da nossa territorialidade. Então, pensar em dar visibilidade para essas pessoas do quilombo, para nós é muito importante. Significa preservar a memória delas e deles. Muitos dos nossos mais velhos já se foram, então eu creio que é importante a gente trabalhar com esses registros, registros de imagens, de áudio, porque futuramente as próximas gerações, filhos, netas, netos e tataranetos desses remanescentes vão ter ali uma ligação muito forte e vão estar vendo fisicamente como que era no passado,” disse.
Ferreira aproveitou e destacou o legado que o filme deixa. “Pensar nas narrativas, inclusive, dessas pessoas que são narrativas históricas, são registros, inclusive, científicos. Tem a nossa relação com a nossa ancestralidade e a nossa relação com a África. Então, pensar nessa memória viva é pensar, sim, na nossa transformação, inclusive, enquanto sociedade, do modo de pensar sobre as pessoas que viveram e são frutos, infelizmente, de um passado muito triste, muito sangrento, que foi o período da escravidão,” explicou.
O projeto
O projeto foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo do Governo Federal, Ministério da Cultura, e viabilizado pela Prefeitura de Brusque, por meio da Fundação Cultural de Brusque.