Cada mulher tem sua história de vida, sua caminhada, mas infelizmente muitas delas não são contadas e acabam ficando guardadas somente com elas mesmas. Porém, essa outrora “realidade” vem mudando aos poucos e cada vez mais temos a oportunidade de apreciar verdadeiras inspirações.
Como é o caso de Vera Lúcia Silva Miguel, servidora da Secretaria de Obras de Brusque desde 2016. Vera Lúcia, que até então só havia concluído a 4ª série do antigo primário (hoje, ensino fundamental), participou do processo seletivo e começou a trabalhar na área de conservação da cidade, fazendo atividades como jardinagem, reparação de canteiros, varrendo ruas, entre outras.
Mesmo sendo costureira, Vera Lúcia nunca gostou da profissão. Via como uma necessidade de momento. Sua inquietude era uma espécie de motivação para sair de frente da máquina de costurar e se movimentar. Ficar parada não era uma opção. Nem mesmo após entrar na Secretaria de Obras.
Até que ela foi chamada para sair dos serviços na rua e trabalhar dentro da própria secretaria, fazendo a limpeza do local e servindo marmitas aos demais servidores. Então a recepcionista da secretaria faltou por alguns dias e perguntaram se havia ali alguém interessado em substituí-la. Vera Lúcia, de imediato, se prontificou.
A servidora assumiria uma nova função, mas tinha um novo desafio interno: terminar seus estudos. “A Secretaria de Obras, acho que em 2017, começou a procurar os servidores que tinham interesse em terminar os estudos para disponibilizar professores. E conseguimos. Todo mundo aqui teve essa oportunidade de finalizar”, contou.
Em 2020, em uma daquelas rasteiras que a vida dá, Vera Lúcia ficou viúva ao perder o marido durante a pandemia. Mas essa mesma vida que dá a rasteira, também te coloca de pé e Vera foi atrás de um novo desafio que a motivasse a seguir adiante de cabeça erguida.
Ao concluir o ensino fundamental e o ensino médio, a mulher recebeu uma notícia vinda do departamento de Recursos Humanos da própria secretaria de que a Unifebe ofereceria bolsas de estudos. Participou do processo de seleção, entrou para o curso de Letras: Inglês e agora já está no terceiro ano da faculdade.
Sobre o friozinho de ter um diploma universitário, ela parece nem acreditar no que está em vias de acontecer. “Nossa, um orgulho. Nunca imaginava isso! Nunca, meu Deus, não! E assim, quanto mais passa o tempo, mais está próximo, mais perto, né? Daí, assim, eu vejo uma possibilidade enorme de ter começado aqui sem ensino fundamental. E agora, oito anos depois e já quase formada no Ensino Superior”, disse, emocionada.
Ela afirmou não acreditar que conseguiria tudo isso sem a ajuda da Secretaria de Obras. “Eu sempre penso que se eu tivesse lá fora estaria estagnada, parada, costurando, não teria terminado os estudos. Aqui deu a oportunidade. Não é todo lugar que dá oportunidade para um funcionário crescer”, afirmou.
“Estudo à noite. Eu começo no trabalho às 8h no Obras, aí paro às 17h30 e daí já vou pra faculdade. Começo às 18h30 e saio só às 22h. E ainda levanto às quatro e meia da manhã para ir para a academia”, contou, sem demonstrar qualquer cansaço.
Mas para quem achou que a história de Vera Lúcia terminava aí, há um desfecho a mais. “Eu cheguei a pesar 134 kg, até que em outubro de 2023 fiz a cirurgia bariátrica, um marco muito importante na minha trajetória, que considero um dos maiores. É uma cirurgia, é uma coisa, meu Deus, que eu tinha muito medo, sempre achei que não ia conseguir e agora já estou com 84. Perdi 50 quilos, saiu uma pessoa de dentro de mim. Um adulto, né? Então é muita coisa. Às vezes eu penso que não sei como é que eu consigo, mas estou na luta”.
A luta é de Vera Lúcia. Mas é de muitas outras Veras Lúcias também.