Um jipe, um menino, um sonho
Viajar pelo mundo, sem destino, sem programar nada e contar apenas com a companhia de um jeep e a certeza de estar realizado com um sonho de criança. De fato, este é um, talvez, de muitas pessoas, mas que poucos durante a vida têm o privilégio de poder realizar. o ex professor Norberto Sciamanna Boddy (67) é um destes privilegiados. Literalmente falando.
Natural de Curitiba (PR), ele deixou a carreira escolar há quatro anos e aproveitou o tempo livre com a chegada da aposentadoria para por em prática o desejo de quando ainda era criança: se aventurar pelo mundo. Algo que já fazia anteriormente, quando as oportunidades surgiam com a pausa nas salas de aulas ao longo de 40 anos como professor. Lecionara em Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre e outros lugares. Essa característica de dar aula me permitiu viajar muito com o jeep. Tinha muito espaço vago entre aulas, com férias longas e viajava tranquilamente com meu jipinho, conta ele.
Mas já que o assunto central são as andanças pelo mundo, ele faz questão de dizer que o sonho era antigo. Principalmente o de ter um jeep, paixão que brotara quando ainda tinha somente três anos de idade. Isso mesmo, dos 67 de vida, de 64 deles o veículo faz parte. Eu inventava expedições pelo fundo do quintal da minha avó. Dali comecei a me interessar por esse tipo de aventura, sempre gostei de ler sobre aventura e comecei a fazer as minhas próprias aventuras, relembra.
Os filhos crescidos e o fato de não ter mais a presença física da esposa, falecida, o possibilita dar o rumo que bem entender às suas viagens. E elas não são, em nenhum momento, planejadas ou programadas com antecedência. Literalmente, vai para onde o vento o guiar. Ou o jeep. Uma experiência que o faz perceber uma nova descoberta, apesar das mais de seis décadas de vida.
É sempre uma surpresa nova a cada dia. Mesmo que você não saiba onde vai estar no dia seguinte, é sempre uma nova surpresa. Pessoas diferentes, situações e cidades diferentes. É um aprendizado continuo.
Viajar pelo mundo não é uma forma literal de expressar. Ele já conhece, sim, muitos lugares. Da América, somente Venezuela e Chile ainda não o receberam. Este último, já tem data para ser visitado: novembro. No momento que antecedia a entrevista, ele conversava com um amigo que fizera no Uruguai, onde foi já oito vezes e retorna ainda este ano para um encontro de jipeiros.
A presença na Festa Nacional do Jeep também foi fruto do acaso. Ou nem tanto. Estava em São Bento do Sul e se deslocava para Florianópolis. Foi quando soube do evento e decidiu fazer parada para conhecer. Acompanha sempre o calendário de eventos pelo país e quando se depara com um que está em seu trajeto, para e participa. E é nestes locais que aproveita para angariar recursos para dar sequência à vida de desbravador do mundo. Vendo alguns produtos para arrecadar dinheiro e poder seguir pela estrada, para gasolina e uma ou outra coisinha.
Entre eles um livro, no qual relata sua experiência pelo mundo. O título, aliás, é bem sugestivo: Um menino, um jeep, um sonho. E para encerrar, não seria mais apropriado do que resumir em poucas palavras o que tudo isto significa em sua vida. Do menino sonhador ao professor de geografia que decidiu ganhar o mundo, literalmente. Deixei de ser professor para virar aluno da vida.