Na falta da visão, são os sonhos que a guiam
Conhecida pela voz durante o programa “Onda sertaneja”, todos os sábados pela Rádio Cidade de Brusque, a radialista e locutora Denise Fernandes (33) tem ultrapassado todos os “não’s” que deram a ela e conta com uma vida regada à superação e sonhos.
Natural de Canoinhas (SC) e, atualmente, moradora da cidade de Guabiruba, onde vive há oito anos, ela conta que sempre teve vontade de trabalhar na área de comunicação, mas que sempre soube de suas reais “limitações”. Antes de chegar ao município guabirubense, também morou em Camboriú, onde conheceu seu atual esposo, Anderson.
Mesmo com o sonho de se comunicar com várias pessoas pelas ondas de um rádio, Denise trabalhou por muitos anos na área da massoterapia. “Eu tenho cursos de massoterapia, de drenagem linfática, estética facial e terapias com pedras quentes. Minha primeira profissão foi na área da massoterapia”. Depois de um tempo, ela começou a organizar bailes na cidade de Guabiruba, por dois anos.
SUPERAÇÃO
Quem escuta o programa Onda Sertaneja não imagina que Denise já passou por algumas dificuldades na vida. Aos 12 anos, ela perdeu a visão em uma sala de cirurgia, devido ao glaucoma, um grupo de doenças oculares que provocam grandes danos no nervo óptico. Isso fez com que os sonhos demorassem um pouco mais para chegar, já que houve um processo de adaptação. “Eu nasci com ela na verdade, mas eu fui perdendo [a visão]. A primeira, eu perdi com três meses de vida, do olho esquerdo”, já a segunda, foi perdendo aos poucos, aos 12 anos perdeu totalmente.
Os pais, depois disso, quiseram proteger Denise pelas condições da filha, sem enxergar. Porém, ela sempre teve força de vontade para superar os desafios e se tornar independente. “Eu estudava em uma sala normal. Eu tinha dificuldade de enxergar no quadro, aí a professora passava tudo numa folha [separada] as atividades”.
Denise conta que, antes de perder as duas visões, enxergava parcialmente na escola. Quando ficou completamente deficiente visual, parou de frequentar às aulas por dois ou três anos, mas como sempre quis se formar, e com a ajuda da mãe, voltou às salas em uma escola que oferecia o braile, onde se alfabetizou no módulo em três meses.
“Eu estava praticamente entrando em depressão, porque achava que não ia poder estudar, que eu ia ter que ser dependente da minha família para sempre. Mas depois, eu conheci pessoas que passaram pelo mesmo e que só dependia de mim”, conta ela emocionada.
Com o tempo, a apresentadora foi se adaptando e, atualmente, consegue ir para vários lugares sozinha, com o apoio de uma bengala. “Já viajei [sozinha]. Já fui para Curitiba, Florianópolis, Bahia. Eu tinha um pouco de receio, medo de se perder, mas isso nunca aconteceu, graças a Deus”. Denise relata que, quando a pessoa não enxerga, ela marca muito os espaços, é como se fosse um mapa mental de um deficiente visual.
A VIDA NO RÁDIO
O primeiro contato dela com o rádio ocorreu por meio de uma rádio web, realizando um programa diário de gênero romântico. Ela apresentava o programa e já possuía vários ouvintes/internautas que interagiam. Ainda continuou pela rádio durante um ano, mudando apenas o gênero, para romântico. “Foi através dela [da rádio] que hoje eu estou na rádio comercial. Tinha bastante participação do público.”
O programa apresentado por Denise, pela Rádio Cidade, é musical e tem o objetivo de resgatar músicas do sertanejo raiz e sucessos que marcaram épocas. “Eu trabalhei oito ou nove meses apresentando sozinha. Agora tenho uma parceira que é a Viviane Souza”.
Segundo ela, a área da comunicação é um sonho desde pequena que tem. Ainda quando criança gravava falas e algumas cantorias em fitas. “Pegava uma escova de cabelo e fingia que era um microfone. Esse sonho eu tive desde criança”.
No programa Onda Sertaneja, Fernandes apresenta 13 comerciais e conta que os próprios amigos acham ela “doida” por entrar no estúdio sem papel ou computador em mãos. “Antes de eu ir pra rádio, além de fazer minha oração, eu estudo o texto”.
Para realizar os trabalho, Denise instalou um programa de voz no computador, o que faz com que tenha interação pelas mídias sociais e, também, fazer o necessário para o programa.
VIDA
Ela ainda possui acompanhamento médico por, pelo menos, uma vez ao ano. Na casa de Denise, em um dos cômodos, há vários equipamentos de musculação e academia, que ela pratica diariamente.
A falta de visão jamais fez com que ela parasse de se cuidar. Com seus cabelos médios e pretos sempre se mantém arrumada. Denise também teve duas filhas: Eliziane e Larissa, além de uma vida regada à superação, amor, organização e independência.