Entidades organizadas veem com cautela manifestos

É nítido que o país vive um momento histórico. São vários protestos e manifestações ocorrendo por todo o território nacional. Porém, diferente das outras vezes, onde entidades representativas da sociedade civil organizada encabeçaram os levantes populares, desta vez é a própria população que parece ter tomado a iniciativa. Mas, afinal, porque será que pouco se viu de apoio ou envolvimento direto das entidades organizadas? E as que o fazem, porque não declaram abertamente seu apoio aos manifestos?

Durante esta quarta-feira (19), a Rádio Cidade entrou em contato com algumas dessas entidades representativas da sociedade civil organizada em Brusque para abordar este assunto. O que se pôde observar é uma divergência de posicionamentos. Todas as consultadas disseram apoiar. Porém, algumas foram reticentes e cautelosas quanto a abraçar de imediato a ideia dos manifestos e sua reivindicações, limitando-se, apenas, em dizer que os pleitos são válidos, mas de maneira pacífica. Superficiais.

Foi o caso da Ordem dos Advogados do Brasil, subseção de Brusque. Paulo Piva, presidente da entidade, afirma que é hora de a população lutar por seus direitos. Segundo ele, a OAB, como entidade representativa, participará em defesa do cidadão e mandará um grupo de advogados especializados em direitos humanos e segurança pública à maioria dos manifestos que forem realizados em território catarinense. Tudo para garantir a liberdade de expressão e associação que, afirma ele, são garantias constitucionais.

O motivo de tanta “imparcialidade” das entidades, de acordo com Piva, é que, em um primeiro momento, é preciso analisar friamente os motivos pelos quais os movimentos foram deflagrados. “Se estava aguardando a real motivação dessas manifestações. Pelo que a gente sabe, não se limitam, apenas, às tarifas de serviço público (transporte coletivo)”, disse o presidente da subseção da Ordem em Brusque.

O presidente da Associação Comercial e Industrial de Brusque (Acibr), Edemar Fischer, segue na mesma linha. “Sou a favor de toda e qualquer manifestação, desde que sejam pacíficos”, ressaltou, sem destacar nenhum ponto específico de reivindicação. Ele não acredita, porém, que o fato de algumas entidades ficarem “em cima do muro” se deve a algum cunho político-partidário. Para ele, o que acontece é que a própria população - e não as entidades organizadas - se cansou e despertou para a revolta.

O Fórum das Entidades Sindicais de Trabalhadores de Brusque e região, que congrega onze sindicatos, também foi procurado pela reportagem. Porém, o órgão se reuniu na tarde desta quarta-feira (19) para discutir exatamente o assunto. Em pauta, a participação ou não dos sindicatos nas manifestações, visto que representam um número significativo de pessoas.

Até o fechamento desta reportagem, não foi possível gravar entrevista com o coordenador do Fórum, José Gilson Cardoso. Porém, informações repassadas pela assessoria do órgão dão conta que a entidade estará, sim, presente no protesto marcado para sábado. Entretanto, como o manifesto se desenha como um instante em que a população tende a levar para a rua toda sua indignação em diferentes frentes, os sindicalistas vão levantar bandeiras de luta histórica do movimento, como redução de jornada de trabalho, fim do fator previdenciário, entre outros.

Das entidades procuradas pela Rádio Cidade, apenas a União Brusquense das Associações de Moradores (Ubam) foi objetiva em afirmar apoio total aos protestos. Luis Carlos Schlindwein, presidente, destacou que desde 2011 foram três marchas organizadas pela entidade. Apesar disso, ele comenta que a sociedade está convidada e convocada a participar dos reclames populares, mas não através das entidades representativas. “Esse é um movimento de cidadãos descontentes com os rumos da política, com os rumos do país”, disse.

O presidente da Ubam falou, ainda, que a sociedade está insatisfeita, não só com o governo, não só contra partido políticos, mas com a situação do país em geral. “Foi preciso começar. Porque, senão, a gente iria ficar falando por 20 ou 30 anos e nada”, completou.

Os manifestos em Brusque estão previstos para acontecer no sábado (22), com início às 11h, em frente à agência do HSBC, na Avenida Lauro Muller, no Centro. Os participantes seguirão em marcha até a Praça Barão de Schneéburg, também na região central.

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