Ciclofaixas em Brusque: da mobilidade à discórdia
Há dez anos morando em Brusque, o servidor público Éber Moraes (36), morador do Bairro Azambuja, é um dos que utiliza a bicicleta como meio de transporte. Sobre as duas rodas, ele se desloca para o trabalho diariamente, bem como a atividades de lazer, pagar contas e outros afazeres no dia-a-dia.
Moraes está entre os que apoiam a instalação de ciclofaixas e ciclovias na cidade, assunto que tem gerado muita polêmica desde que os primeiros metros foram instalados, em 2009. “Uso todo dia. A minha bicicleta é o único veículo que tenho. Muitas pessoas não respeitam a velocidade nas ruas e a ciclofaixa é de grande serventia nessa hora”, opina.
Funcionária de uma loja situada na Rua Azambuja, Lucia Maria Roier (55) observa diariamente o movimento de veículos, pedestres e de pessoas que circulam a bordo de bicicletas. Ela lembra que um dos reclames de muitos comerciantes foi o fato de as ciclovias tirarem vagas de estacionamentos. “Tem o outro lado também. Se alguém quer comprar realmente, vai usar o outro lado”, comenta ela.
Mas a visão favorável às ciclovias não é unanimidade. Em enquete realizada pelo site da Rádio Cidade na última semana, a opinião ficou dividida. A maioria aprova a existência delas, mas o número dos contrários ficou bastante próximo: 406 favoráveis e 243 contrários. Algo que comprova que o assunto é, sim, indício de muita polêmica.
Entre os que não apoiam a instalação das ciclovias está o profissional liberal Marcos dos Santos (35). Para ele, a cidade não foi projetada para se instalar ciclovias e o curto espaço que formam as ruas acaba prejudicando a todos, veículos e bicicletas, com a existência destes espaços. “Algumas ciclovias aqui começam num lado da rua e terminam no outro. Fica complicado. Ao invés de ajudar, coloca em risco a vida dos ciclistas”.
Retirar ou não?
Recentemente, mais uma polêmica se criou em torno da presença das ciclovias. Crítico ferrenho do modelo, o vereador brusquense Dejair Machado (PSD) protocolou na Câmara Municipal um documento no qual pede a retirada de todas as ciclofaixas instaladas na cidade. Segundo ele, o pedido teria sido embasado por alguns comerciantes que se sentiram prejudicados. O pedido está em análise nas comissões da Casa.
O secretário de Trânsito e Mobilidade da prefeitura de Brusque Bruno Knihs afirma que as ciclovias instaladas não serão retiradas. Ele demonstra ser favorável à instalação de meios destinados aos ciclistas, mas frisa que as que já existem em Brusque não seguiram planejamento adequado e precisam ser reavaliadas. “É pensamento meu. Não recebi nenhuma posição do prefeito, mas sei que é intenção dele manter e ampliar uma coisa organizada. Temos ruas estreitas e se colocar a ciclofaixa ficará difícil. Mas temos que fazer o passeio compartilhado e ciclovias. Não serão, em hipótese alguma, retiradas, sabemos disso”, assegura.
Segundo Knihs, o que dificulta é o tamanho das ruas. O ideal seria que as vias tivessem cerca de doze metros de largura, mas não é o que ocorre. “Brusque cresceu espremida e há poucas vias com doze metros. A maioria é de seis. Quando se fala em cidade moderna, não se pode deixar de incluir a ciclovia”, prossegue.
Redução de acidentes com ciclistas é um dos argumentos de quem defende
Quem defende o uso da bicicleta e espaços para elas nas ruas, utiliza dois argumentos fortes para defender as ciclovias. Um deles é a qualidade de vida, pois com o uso cada vez maior de bicicletas, diminui a quantidade de veículos nas ruas e, consequentemente, o problema das vagas de estacionamentos, um dos motivos de críticas de quem não abre mão dos carros e discorda da necessidade das ciclofaixas.
”Desde que elas foram implantadas não houve mais acidentes com bicicletas nesses locais. Isso é um ponto positivo, que vale a pena. O que defendemos das ciclofaixas é a preservação da vida. A bicicleta só veio ocupar um espaço que já é dela. Hoje, não é uma alternativa de esporte, mas, sim, de locomoção”, defende Edson Hoffmann, integrante da coordenação do Fórum Municipal da Bicicleta de Brusque.
O fórum foi criado em 2014 justamente para debater as questões relacionadas à mobilidade urbana e às ciclovias, ciclofaixas e espaços para uso das bicicletas. Embora sem nada oficial ainda, Hoffmann afirma que a entidade já fez levantamentos a respeito do tema. Um deles, por exemplo, é quais regiões há maior fluxo de bicicletas diariamente. “Um dos maiores volumes de bicicleta em Brusque é no trajeto do Centro ao Bairro Santa Terezinha. Ali não tem ciclovia. Outro grande volume é na Primeiro de Maio”, afirma.
Entidade do comércio adota cautela sobre assunto
O ciclista é mais enfático na crítica aos contrários às ciclovias. Sobre a retirada de vagas de estacionamento nas ruas, Hoffmann é objetivo: “a via não é para estacionar. O município faz ali o que quiser, pois é um bem público. O espaço onde cabe um carro, cabem dez bicicletas”.
Para a Câmara de Dirigentes Lojistas de Brusque (CDL), o assunto ciclovias é algo delicado. A entidade representa a maior parte dos comerciantes, possui mais de 800 associados e a opinião favorável ou contrária não é unanimidade entre eles. Procurada pela reportagem da Rádio Cidade, a entidade afirmou que como representante de diferentes e divergentes opiniões sobre o tema, não tomará nenhuma posição a respeito. Para a CDL, as ciclovias são importantes dentro da filosofia de mobilidade. Porém, a implantação das mesmas deve seguir um planejamento e não ser instituída sem qualquer tipo de estudo de impacto ou ausência de discussões com setores afetados.
Poder público quer manter, mas vai estudar melhorias
A Lei Federal 12.587, de 2012, determina a instituição do Plano Nacional de Mobilidade Urbana. Entre outros pontos, ela define que todos os municípios que pretenderem buscar recursos junto ao Governo Federal devem ter o plano de mobilidade urbana elaborado. “Pegamos um governo de transição e vejo que nosso plano está atrasado. Mas vamos reunir o Ibplan, o Departamento de Infraestrutura, os técnicos da Setram e elaborar o plano já com visão de futuro”, comenta o secretário de Trânsito e Mobilidade Bruno Knihs.
Atualmente, são onze quilômetros de ciclovias instaladas em Brusque. A intenção é ampliar, assegura Knihs. Mas, antes, é preciso resolver alguns problemas causados pelo que ele chama de falta de planejamento na instalação destes espaços. “Tem uma que vem de um lado e cai para o outro. Nem todas as ruas podem receber ciclofaixas. Tem que fazer passagens depedestres seguras e as ligações dessas ciclovias. Esse planejamento deve ver esse o primeiro ponto para depois fazer a ampliação desse tipo de transporte”, finaliza ele, afirmando que a intenção é circundar toda a cidade por ciclovias e, inclusive, estender esse acesso a cidades vizinhas.
Qual a diferença?
Ao contrário do que muita gente pensa, ciclovia e ciclofaixa não são sinônimos. A ciclovia é caracterizada pelo isolamento físico da área desinada à circulação de bicicletas. Em Brusque, existe apenas uma ciclovia, na Avenida Bepe Roza.
A ciclofaixa, como o nome diz, é uma faixa pintada no chão indicando que aquela área é para os ciclistas. Nesse caso, pode ou não haver demarcação com tachões. É o que ocorre no resto da cidade, a exemplo das ruas Azambuja e Primeiro de Maio.
Existe ainda o passeio compartilhado, quando ciclistas e pedestres dividem o mesmo espaço, como acontece na Praça Sesquicentenário.
Vale lembrar que, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, a bicicleta é considerada um veículo de propulsão humana. Dessa forma, integra o trânsito e está sujeito a normas de circulação e conduta como todos os demais veículos, com artigos que tratam exclusivamente sobre assunto no CTB.