Superação, acima de tudo

Neli de Oliveira (50) descobriu que era portadora de diabetes há uma década, depois de realizar um exame por causa de uma dor no fígado. Nos último dois anos, a doença virou do tipo 2 para o tipo 1, e, além da rotina de medicamentos, ela tem, também, a tarefa diária de aplicar insulina. Missão nada fácil, sendo que são três aplicações de 80 ml ao dia.

“A primeira vez que fui aplicar olhei para a seringa, para a minha barriga e larguei. Queria desistir, porque eu pensei: não vou aguentar todos os dias. Aí pensei que era para o meu bem. E depois da primeira vez, eu disse para a médica que não queria mais o remédio, porque ele me doía o estômago e a insulina não. Foi aumentando a dose e, hoje, tomo 240 ml de insulina por dia, em três doses”, conta ela.

Além das aplicações de insulina, Neli ingere, ainda, outro remédio via oral. Ela utiliza do tradicional método da seringa, mas já existem métodos mais confortáveis no mercado. De acordo com o farmacêutico Rafael Marchi, as canetas aplicativas vieram facilitar a vida do diabético e os preços variam bastante.

Existem quatro maneiras de aplicação: seringa tradicional descartável, que custa em torno de R$ 2 por aplicação, caneta descartável, que utiliza de uma pequena agulha, diminuindo a dor e fica em torno de R$ 35 por aplicação, a caneta não descartável, que se compra apenas uma vez por R$ 35, mais as agulhas a cada dose. Por último, existe a caneta sob pressão, que não utiliza agulha. Essa é o que há de mais moderno, indolor e evita risco de infecção. Por esse motivo, o item custa R$ 1,5 mil. Os preços citados não incluem a insulina – medicamento que tem por missão diminuir o nível de açúcar no sangue.

Além de um desses comentados acima, outro item indispensável para o diabético é o aparelho de glicosímetro, que serve para fazer a medição da glicose. Já existem mais de dez tipos de aparelhos no mercado e os preços ficam entre R$ 30 e 50.

Segundo o endocrinologista Frederico Guimarães Marchisotti, a tendência é que surjam cada vez mais equipamentos. “Já existem bombas de infusão de insulina, que injetam insulina continuamente, durante 24 horas. Existem equipamentos que fazem a medida da glicose continuamente, a cada cinco minutos e informam ao paciente. O que se busca ainda é um equipamento que faça a medida e a correção com a insulina”, destaca.

Os medicamentos orais também variam muito. Tanto no preço quanto na função de cada um. Segundo Frederico, há medicamentos que atuam na resistência à insulina, os que auxiliam o pâncreas na produção de insulina, alguns que ajudam a eliminar glicose pelo intestino, entre outros. Alguns estão disponíveis pelo Sistema Único de Saúde, que oferece o tratamento.

De acordo com a coordenadora de saúde da secretaria municipal da Saúde de Brusque, Ana Paula Petry Lima, todo diabético tem direito ao tratamento através do serviço público. “Essas unidades cadastram os diabéticos e é feito o acompanhamento, com consultas regulares, fornecimento de medicamentos, insulinas e proposta de trabalhos educativos. Os medicamentos, tanto via oral quanto a insulina, são distribuídos pelo município. Alguns com verba municipal e outros com verba estadual”, explica ela.

Em alguns casos, o SUS oferece até mesmo o aparelho e medição. Geralmente, cada unidade básica de saúde, os postinhos, possui uma agenda especial para atendimento aos diabéticos e hipertensos. Basta consultar com a equipe da mesma no bairro onde o usuário reside. Além do apoio no tratamento, há ainda grupos de educação e saúde, onde são debatidos temas como alimentação, uso correto da medicação e atividade física.

“A gente ainda conta com o núcleo de apoio a saúde da família, onde temos nutricionista, psicólogo, educador físico, fonoaudiólogo e fisioterapeuta. Eles acabam se envolvendo, dando suporte, orientação. Basta ter a vontade participar que as portas estão abertas”, ressalta Ana.

Neli é apenas uma entre os mais de 3,3 mil diabéticos em Brusque, segundo dados da secretaria de Saúde, utilizando os serviços da Prefeitura. Chocada há dez anos, quando descobriu a doença, hoje ela afirma que já aprendeu a conviver.

“Fiquei preocupada, porque eu não conhecia o que era um diabético. Para mim, era uma coisa terrível. Mas depois que comecei a me tratar, mudou bastante. Eu não como mais pão branco, macarrão. Arroz só duas colherinhas ao dia. Demorou para controlar, mas agora eu estou levando uma vida normal”, finaliza Neli.

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