Que o diabético tem que se controlar em relação ao doce, não é mais novidade. Mas será mesmo que não pode contar com o prazer de comer um pedaço de chocolate?

De acordo com o médico endocrinologista Frederico Guimarães Marchisotti, esse mito já caiu por terra. “A dieta do diabético é uma dieta que todos nos deveríamos fazer. Ele não está condenado a nada específico. É comer várias vezes ao dia com pouco carboidrato. Ele pode comer um doce, mas desde que use, previamente, a quantidade de insulina para o doce que vai consumir. A gente chama isso de contagem de carboidratos. É claro que isso não pode se tornar um ato frequente, mas, de vez em quando, é possível, desde que ele saiba se controlar e usar a insulina adequadamente”, aconselha.

A nutricionista Ariane Serpa explica que o diabético tem que se preocupar com o índice glicêmico da alimentação. Ou seja, uma dieta com pouca quantidade de doce. Uma dica é fracionar os alimentos, comendo de três em três horas, ricos em fibras e proteínas. “Como o pão integral e o iogurte desnatado. Eles acabam diminuindo o aumento de glicose no sangue”, ressalta.

O uso de alguns alimentos comuns pode ajudar nesse tratamento. “O diabético tem que pensar o seguinte: ele tem que ter uma alimentação balanceada com frutas, verduras e grãos. Linhaça, amaranto são grãos integrais, que diminuem o índice glicêmico pelo fato de ter proteína. Se for comer uma fruta e é muito doce, acrescenta um pouco de canela ou um grão. Ele vai poder comer sem se preocupar tanto”, explica a nutricionista.

Além disso, o mercado oferece um grande leque de produtos para diabéticos, geralmente separados num setor específico nos supermercados, rotulados Diets. É possível encontrar chocolate, biscoitos, barra de cereal, gelatina, geleia, sucos, açucares e adoçantes, entre outros. De acordo com a nutricionista, é necessário um cuidado na ingestão desses produtos. “Os diets eliminam totalmente o açúcar, mas para melhorar o sabor eles incluem gordura. Tem que ter cuidado com esses alimentos, porque a pessoa pode estar ganhando peso”. Existem outros meios de saborear o doce, como o bolo integral, utilizando biomassa de banana verde e cacau em pó orgânico.

Em uma refeição, é importante ter carboidrato complexos, ou seja, fibras. Como arroz, macarrão ou pão, todos integrais. Proteína, encontradas em carne magra, queijo branco, frango, feijão, vitaminas e minerais. Em alguns casos, se faz necessário a suplementação desses nutrientes via oral, através de remédio. “Alimentação é o primordial, mas temos outros tipos de nutrientes e recursos para auxiliar na redução de glicose sanguínea”, prossegue a nutricionista.

Para o médico Frederico, a alimentação é um processo fundamental. “Não adianta fazer uso da medicação e não adequar a alimentação e à atividade física. Vai ser quase impossível de controlar dessa forma. A alimentação é a base do tratamento”.

Silvia de Oliveira Pereira (64) tem diabetes tipo 1 há dez anos e, hoje, leva uma vida normal. Toma medicação oral três vezes ao dia, depois das três principais refeições. “O médico disse que eu não poderia mais comer pão, macarrão, arroz. Mas eu não sou muito de doce. Como de vez em quando um quadradinho de chocolate ou uma sobremesa. Custei a me adaptar, porque era acostumada a comer coisas fora da dieta. Mas já faz parte, já me acostumei. Evito a sobremesa, como mais salada, não como muita fritura. Agora sou mais saudável. Como mais frutas, mais verduras. Não é nada horrível”, ressalta.

Maria Bernadete Beuting Decker (70) descobriu o diagnóstico há cinco anos, após exames de rotina. Desde então, já perdeu 36 quilos. Ela não restringe nada da alimentação, mas aprendeu a se controlar. “Como doces e chocolate, mas tudo bem controlado. Se como doce, não coloco adoçante no café. E assim vou controlando. Eu como de tudo, mas tudo pouco Cortei a quantidade. Agora sou mais saudável. Emagreci, estou mais leve, me sentindo melhor. Já me acostumei. Diabetes não me atrapalha em nada, o que me atrapalha mais é a gripe”, finaliza entre risadas, mostrando que é apenas mais um diagnóstico.

Neli de Oliveira (50), personagem da reportagem anterior, necessita da aplicação de insulina. Para ela, a restrição é maior: come apenas pão, macarrão e arroz integral. Acrescentou saladas e frutas. “Já comprei leite condensado diet e fiz pudim porque tinha muita vontade de comer, mas aí me desiludi. Penso em mim. O tempo que eu ia comprar um chocolate eu compro uma fruta. Se eu quero comer macarrão, como salada. Já me acostumei. Até porque um pão francês que eu comia, parava no pronto socorro com insulina na veia. Então eu pensei que o melhor pra mim é não comer e consegui me habituar. O açúcar só o da fruta. Pedaço de chocolate nem pensar”, relata ela.

OUÇA A MATÉRIA